sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O desequilíbrio da visão e a cegueira da balança..






A figura acima representa a Deusa Têmis, que traz consigo uma espada em uma mão (poder exercido pela Justiça), enquanto com a outra sustenta uma balança (simbolizando o equilíbrio), além de uma venda que lhe cobre os olhos, simbolizando a imparcialidade da justiça e a igualdade dos direitos.


O que a Deusa Têmis tem em comum com a história de Marcos Mariano da Silva, um simples cidadão brasileiro?

O cidadão foi preso, em 1976, porque tinha o mesmo nome de um homem que cometeu um homicídio – o verdadeiro culpado só apareceu seis anos depois. Posto em liberdade, passou por um novo pesadelo três anos depois: foi parado por uma blitz, quando dirigia um caminhão, e detido pelo policial que o reconheceu. O juiz que analisou a causa o mandou, sem consultar o processo, de volta para a prisão por violação de liberdade condicional.


Nos 13 anos em que passou preso, além da tuberculose e cegueira, Marcos foi abandonado pela primeira mulher. A liberdade definitiva só veio durante um mutirão judiciário. O julgamento em primeiro grau demorou quase seis anos. O Tribunal de Justiça de Pernambuco determinou que o governo deveria pagar R$ 2 milhões. O governo recorreu da decisão, mas se propôs a pagar uma pensão vitalícia de R$ 1.200 à vítima.



“ Eu morro dizendo que eu acredito na Justiça. É lenta, mas é feita”, diz o ex-mecânico Marcos Mariano da Silva.




E, no dia 22 de novembro de 2011, após ser vítima de um infarto do miocárdio, Marcos morreu.


Morreu após saber da conclusão do processo que movia contra o governo de Pernambuco por ter passado 19 anos preso por engano. A Justiça havia concedido, por unanimidade, ganho de causa a Marcos Mariano por danos morais e materiais.




É, Marcos, a justiça foi lenta. Cruel e, injustamente, lenta.. Mas, foi feita..



Infelizmente, durante essa longa jornada, o que era para ser venda, se tornou visão.



A imparcialidade se perdeu na cegueira de uma justiça falha. E se materializou nos olhos do homem que perdeu a visão.




E agora, Deusa Têmis,será que sua balança ainda está em pleno e total equilíbrio?


E a venda, que era para significar imparcialidade, impede que a lucidez encontre a justiça?


A espada corta. A balança desequilibra. E a venda.. cega!




" É preciso fé cega e pé atrás.. "

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A melodia das palavras mudas..




Eu já não escrevo como antes. Falta-me inspiração.
Faz falta o desejo louco que tinha em expressar e traduzir cada batida descompassada de meu peito. Ao te ver. Ao te ter..
Começo a escrever lembrando-me das vezes em que te vi. Descrevo teus perfeitos traços.
Deixo que o brilho dos teus olhos invada a clareza de minhas idéias. Deslizo a caneta no papel e desenho o contorno das palavras como se percorresse a maciez de seus lábios.
Me perco em momentos que não tivemos. Me prendo em beijos que não demos. Imagino lugares, fotografias, paisagens. Imagino você. Sempre. Ao meu lado..
E é aí, justamente aí, que interrompo a minha escrita. Deixo o texto incompleto para que o inalcançável dure mais um pouco. A impossibilidade de te ter comigo foi superada. Eternizada a sua presença em minha mente..
Não quero ter que abrir meus olhos e perceber que nada disso é real. Não conhecemos lugares, não existiram fotografias. E só o que tenho agora, são erros de ortografia..
Num português descrente vou errando as palavras, vou trocando as pernas. Sem você não há nada.
Não há alegria boba, nem motivo para admirar o dia ensolarado que faz lá fora. O canto dos pássaros deixou de ser melodia. O dia, é só mais um dia..
O tempo passa arrastado, esfregando na ferida da minha solidão, a acidez da sua ausência. A ferida está exposta. Sangrando..
Deixo que a dor se manifeste em uma torrente de água com sal. Não só a ferida, mas o corpo inteiro dói. Arde. Chama. Sente sua falta.
Eu só preciso de você, mais nada. Preciso que você me traga a inspiração para escrever a continuação. Imploro para que devolva meu coração. Inteiro. Sem receio..
E é assim que a minha poesia segue. Sem você. Sem fim. Incompleta. Repleta de mágoa..
Abandonei o ponto final e deixei que as reticências falassem por mim.
É assim, em aberto, que deixo minha poesia e minha vida, à espera de ti ...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Coração de Papel..




Em algum lugar do tempo..
Aquele, em que eu ainda tinha um coração.


Ah! Naquele tempo sim, saberia descrever essa emoção.
Naquela época descobri sua melodia e meu peito se abria pra mais uma canção
A cada novo dia, o meu corpo se enchia da mais pura paixão.

Ah! Coração..
Como batia rápido e acelerado, pelos simples fato de estar ao seu lado.
Segurava a sua mão e sentia bater na face, o vento gelado.

Ah! Dias de outono..
As flores caídas, jogadas, esquecidas.. já não tinham mais dono
Mas você, amado meu, no meu castelo ocupava o trono!

Ah! Que lindos olhos você tinha..
Brilhavam ainda mais quando você sorria.
E foi aí, eu já sabia..
Para sempre e para ti, eu me perdia!

Ah! Que ousadia..
No dicionário do meu peito, não cabia a covardia.
Só sabia descrever o amor imenso
que por ti,
apaixonado, sentia .

Ah! Se eu pudesse voltasse atrás..
Naquele tempo.
Naqueles dias..

Descobri que se tratando de amores,
nem tudo serão flores.
Ah! Fosse um dia de verão então,
não lhe entregaria meu coração!

Ah! Dias de inverno..
Apodreceram-se as flores caídas e já de partida,
você se foi.
Esqueceu de levar o tempo
que passa arrastado, cada vez mais lento.
Ficaram as lembranças.
Levou a esperança
Ficou você.


Ficou alguém que tornou-se o meu mais amargo tormento.
Rasgou as fotos
Ficaram os momentos.
Em mim..

Sofro desde então
pra ignorar nossa canção.
Esquecer teu riso doce
e recuperar meu coração.

Nessa velha folha amarelada, ao som de lágrimas,
deixo cravadas, esculpidas e tatuadas
as palavras de adeus.

Você levou a alegria,
e é covardia esse gosto de fél.
O pior é saber que,
aqui, no meu peito,
ainda desmancha por ti..
Um coração de papel.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Trancado..




Estava ali, na sacada de sua cobertura, em frente ao mar. Segurava um copo de whisky e, com a ajuda do dedo, girava as duas pedras de gelo, que ali estavam há algum tempo. Curvou-se, de maneira que, seus cotovelos ficassem apoiados na grade de proteção e apoiou seu queixo, o segurando com a mão.
Desviou seus olhos do copo e pôs-se a observar o lugar à sua volta. A vista lá de cima era linda.
O vento fazia com que a brisa do mar chegasse até seu rosto, espalhando a sensação de frescor e suavidade, um contraste perfeito com a noite quente e seca que despontava naquele início de semana.
O dia fora cansativo. Resolveu alguns problemas no trabalho, deixou o dobro acumulado. O trânsito estava um caos. A geladeira começava a ficar vazia. A cabeça dava sinais claros de que iria doer. Os pés latejavam, os calos estavam evidentes.
Nada. Nenhum pensamento anterior desviou sua atenção do casal que passeava feliz e de mãos dadas pela areia. A leveza com que eles corriam juntos. Se olhavam. Tocavam carinhosamente e pareciam não mais querer se largar. Pareciam não ter cansaço, problemas no trabalho ou dor de cabeça. Beijavam-se como se o mundo fosse a língua que percorria avidamente dentro da boca. Explorando. Sugando. Marcando.
E por alguns, poucos, instantes se deixou perder naquela cena. Sua mente, numa tentativa insana, cogitou a possibilidade daquele sentimento realmente existir.
Balançou a cabeça, riu com sarcasmo e se perguntou mentalmente, se já não havia bebido demais.
Decidiu sair da sacada e voltar para o sofá, confortavelmente disposto no centro da sala, e assistir algum programa qualquer na TV. Só queria, e precisava, relaxar.
Teve os passos interrompidos pelo som da campainha que não parava de tocar. Praguejou e proferiu alguns palavrões inaudíveis, tomou a bebida que ainda restava no copo, o largou com força na mesa, e contrariando toda sua vontade, foi até a porta. Sem olhar no olho mágico, a abriu. Assustou-se.

– Você? – disse com a voz trêmula
– Eu disse que viria, qual o motivo da surpresa?
– E eu disse que não queria mais você. Qual o motivo da insistência?
– Me deixa entrar? – pediu suplicante
– Jamais. Vai embora! – Afirmou confiante
– Não adianta me expulsar, rejeitar. Não vou desistir de você.
– O problema é seu. Vou fechar a porta e você que se vire aí de fora! – Ameaçou um sorriso confiante
– Vou ficar aqui, batendo e gritando seu nome, até você abri-la novamente.
– Eu não entendo. Por que eu? Com tantas pessoas. Por que justo eu? – Deixou que um suspiro cansado escapasse
– Me deixa entrar, a gente conversa melhor, com calma. Uma trégua. Aceita?

Nada disse. Apenas deixou espaço suficiente para que entrasse. Acomodaram-se no sofá e se olharam por longos minutos.

– Você precisa acreditar em mim!
– Não consigo. – Colocou a mão na cabeça e bagunçou os cabelos, em um claro sinal de nervosismo.
– E por que?
– Você é intenso, generoso, grudento demais. Me transformou, me fez sentir coisas indescritíveis e depois, mágico como surgiu, se foi.
– Eu não fiz por mal. Era imaturo, inconseqüente, passageiro demais.
– Não quero mais me sentir tão vulnerável e sua presença é a receita para que ela cresça. Vá embora!
– Mas eu acabei de chegar. Aliás, ainda estou esperando outro alguém.
– O que? Do que você está falando? Quem está para chegar? – Perguntou sem entender.

A campainha tocou novamente, interrompendo o assunto e deixando a pergunta se dissolver no ar. Sem resposta.

Percebendo que, mais uma vez, sua vontade fora inteiramente contrariada, se viu obrigada a atender a campainha, que dessa vez tocava ainda mais apressada e estridente. Como que anunciando um palpitar conhecido e presente. Abriu a porta. Se encantou.
Se perdeu na imensidão cor de mel que se oferecia em um olhar cintilante. Não soube o que falar ou onde colocar as mãos. O silêncio foi quebrado..

– Oi! Eu acabei de me mudar para o apartamento ao lado e queria.. É..queria saber se você tem um pouco de açúcar para me emprestar. Eu sei que é meio estranho vir pedir açúcar justo no primeiro dia, mas.. – Nem conseguira ouvir o resto da frase. Sem pensar. Sem controlar as batidas do seu coração, apenas disse:
– Entra..!

Enquanto pegava uma xícara de açúcar, sua visita anterior, que ainda se encontrava por ali, abriu as janelas e deixou que a brisa fresca do mar entrasse. Voltou a se posicionar ao lado da anfitriã e sem que ela percebesse, sussurrou ao seu ouvido:

– Quem chegou foi a materialização do meu eu. O sorriso bobo. O acelerar do coração. Arrepios e tremor. Sou eu, o amor. E aquela pessoa distraída que acabara de esquecer o açúcar, a consolidação! Do amor. Do seu amor..

A solidão saiu do quarto, acompanhada da tristeza e melancolia. Saiu daquele apartamento e já do lado de fora, ao som de gargalhadas e vozes satisfeitas, sussurrou contrariada:

Ah, amor. Se você soubesse por quantos anos essa porta permaneceu trancada..

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Chuva de lágrimas ..



A chuva cai e com ela, a melancolia de um entardecer triste. O vento balançando a copa das árvores se assemelha ao vai e vem da menina que antes brincava no balanço. As pessoas procuram se esconder em lugares cobertos e iniciam um papo cordial de como o tempo mudou.. A mãe protege o filho com uma capa de plástico. Desconhecidos dividem um lugar no guarda-chuva. A mulher sai do salão de beleza e tenta cobrir o cabelo com o livro que estava jogado no carro. O homem tenta, inutilmente, não molhar os sapatos recém engraxados. A chuva continua caindo..
No meio da rua, observo os pingos d’água caírem no asfalto. O calor é substituído por uma brisa que bate suavemente pelo rosto. As pessoas correm para suas casas. Agradecem por terem chegado logo, deitam embaixo do edredom e desejam tomar uma sopa quente. É só mais um dia de chuva..
Deixo as gotas lavarem minha alma. Posso enfim, exteriorizar as lágrimas que tanto guardei. Não sei mais distinguir o que sai de mim e o que vem da chuva.
O vento bagunça meus cabelos e varre o rastro de dor do meu peito. Meu olhar se funde com céu cinzento. O dia triste e tedioso é a representação perfeita do meu interior.. As ruas estão vazias, somente alguns carros passando.. A cidade se encolheu. Meu corpo se fechou.
Os olhos vermelhos escondem a fúria de um coração desmatado. Espero, ansiosamente, que as gotas de chuva ajudem a apagar o incêndio da dor.
A chuva cessou..
Por dentro, o temporal ainda cai. Nuvens negras anunciam tempos difíceis. Raios e trovões acendem o céu. A energia acabou. A escuridão impede que a esperança veja a luz.. Fechei meus olhos. Me agarrei em um galho que havia caído com a forte ventania e deixei que a chuva de lágrimas, seguisse molhando meu peito..

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Meu herói..




Hoje me lembrei de você como há muito tempo não me permitia. Deixei vir à tona as lembranças e não impedi que lágrimas de saudade cobrissem meu rosto.
O peito foi invadido por uma nostalgia melancólica. As pernas desobedeceram o comando do cérebro e fraquejaram. Sentei-me diante do seu retrato, tão bem posicionado na sala de estar, e contemplei a sua aparência tranquila. Hoje se completa mais um ano e foram tantos desde que você se foi.
O acúmulo de anos, meses e dias não foram suficientes para apagar a dor da sua ausência. Faz falta sua presença imponente e protetora. O modo como agradecia e celebrava a vida. A maneira firme de conduzir os negócios. A alegria que emanava do seu sorriso. Os braços firmes que tantas vezes ofereceram abrigo.
Eu não pude aproveitar por muito tempo. Convivi tão pouco e em uma idade que não me permite ter tantas lembranças assim. As poucas que ainda tenho guardadas trazem a confirmação de que a dor da perda não é passageira. Depois de tantos anos você continua aqui, presente e constante entre todos nós.
Não sei definir com exatidão e clareza, a imensidão do meu sentimento ao escutar seu nome ou as inúmeras histórias das quais você participou.
São tantas pessoas, tantas palavras e elogios. E agora, o sentimento que invade o peito é de satisfação. Orgulho por conhecer seu lado humano, felicidade por reconhecer que eu tenho seu sangue correndo nas veias. Sei que você está comigo, não só nas lembranças, mas do lado esquerdo do peito. Onde não há barreiras, nem distância. Sempre se fará presente nas dificuldades, onde pedirei sua ajuda para superá-las, ou até mesmo nas conquistas, onde agradecerei e dedicarei a ti, a glória do mérito. Agora, percebo que você não está tão ausente assim. A ausência é meramente física. Mas ainda posso sentir, enquanto sonho, seu abraço apertado. E os sonhos são tão reais. Sua presença é natural e necessária. Abro os olhos e não consigo distinguir o real do imaginário.
Olhei mais uma vez a sua foto e tirei os resquícios de poeira que insistiam em tampar seu sorriso. Nada me faria esquecer dele. Nem mesmo o tempo..
Deixei a sala de estar com o coração pulsando forte no peito.
E como nas histórias em quadrinho, que o personagem principal se espelha em um herói para viver e tomar as atitudes corretas, eu me espelho em você.
Deixei escapar um sorriso orgulhoso por saber que é em ti meu porto seguro. Obrigada por ser e se fazer presente.
Meu herói. Meu herói da vida real.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O amor da juventude. A juventude do amor..






Me perdi no túnel. Não vejo a luz. Os olhos já se acostumaram com a escuridão.O coração não.
Você diz que acabou. Nosso amor morreu. Já não quer viver assim.O sentido se perdeu. E eu?
O frio tomou o corpo.A mágoa abraçou a alma. O calafrio apossou-se da espinha. A respiração deixou de ser calma.

Os fantasmas da solidão rondam meu travesseiro. Não consigo dormir. Passeei pela casa e relembrei os momentos. Tomei um café e chorei meu tormento.
Projetei teu sorriso na parede. Perfeito. Intacto. Pensei em te ligar. Lembrei em te esquecer.
Imaginar a vida sem você. Já não sei o que fazer. Rodar o mundo.. Pra onde correr?
Fico vulnerável sem o escudo do teu abraço. Suspirei. Vencida pelo cansaço. Adormeci com a lembrança do teu beijo..
Acordei com as batidas da solidão. A cama ainda está vazia. O quarto ainda tem seu cheiro..
O tempo parou aqui dentro. A vida passa apressada lá fora. Nos braços de quem, estará você agora?

Sorri com as lembranças. Me surpreendi com a descrição daquele amor. Na época foi cravado na pele. Hoje, é só mais um quadro embaçado.
Lembrei-me com saudade dos tempos da juventude. A intensidade presente nos momentos. A efemeridade enchendo os pulmões de vida.
A adrenalina se espalhando pelas veias. O desejo daquele olhar apaixonado. Hoje, é só mais uma lembrança com gosto de saudade.
O cheiro do café recém passado, me trouxe de volta ao presente. A responsabilidade constante. A comodidade dos momentos..
Peguei uma caneta e escrevi na última folha daquele diário..
É gostoso lembrar do amor da juventude. É penoso redescobrir a juventude do amor.